Campanha de Bolsonaro dá sinais de ter sentido os ventos apontados na pesquisa Ipec

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REUTERS/Ueslei Marcelino

A pesquisa Ipec divulgada na segunda-feira (24/10) deve ter acionado o módulo desespero na campanha de Jair Bolsonaro (PL). Se não, o que explica a convocação às pressas de uma coletiva para “denunciar” um suposto boicote de emissoras de rádio no Nordeste às propagandas partidárias do candidato à reeleição?

A tal denúncia foi feita pelo ministro das Comunicações, Fábio Faria, e o ex-chefe da Secom Fabio Wajngarten.

O caso chegou à mesa do presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Alexandre de Moraes, que pediu aos denunciantes que apresentem o quanto antes as provas da acusação tão grave. Caso contrário, um processo para apurar eventual crime eleitoral pode ser aberto contra os autores.

O movimento prenuncia uma semana de tensão.

Bolsonaro abriu a carteira e esperava chegar à reta final da campanha em situação mais confortável em relação a Lula (PT), que aparece à frente no Ipec com 50% das intenções de voto, contra 43% do presidente. Convertidos em votos válidos, o petista lidera com 54% a 46%.

Os ponteiros mal andaram desde a semana passada, embora haja movimentos aqui e ali entre segmentos-chave do eleitorado.

Bolsonaro diminuiu a vantagem do petista no Nordeste, que já foi de 44% e hoje é de 41%. Ainda assim, a distância é considerável em uma região onde o ex-presidente é o candidato favorito de 67% dos eleitores, contra 26% do atual.

O postulante do PL, porém, abriu ampliou a vantagem no Sudeste, a região mais populosa do país. Ele agora tem 49% das intenções de voto, ante 44% de Lula. Minas Gerais, mais do que nunca, será o grande pêndulo da disputa nacional, com os candidatos saindo no tapa, em cada novo ato de campanha no local, pela preferência do eleitor mineiro.

Além do Nordeste, algumas fortalezas explicam a vantagem do petista a pouco menos de uma semana da votação. Ele segue liderando entre mulheres (51% a 40%) e entre pessoas que ganham até um salário mínimo (63% a 30%). Isso significa que não tem surtido efeito o esforço bolsonarista de despejar dinheiro do Auxílio Brasil a essa fatia dos eleitores ou de se desvencilhar da imagem de misógino associada a seu histórico de agressão verbal a mulheres.

Ele segue bem à frente do adversário, porém, em segmentos que ganham mais de cinco salários mínimos (59% a 34%) e evangélicos (60% a 34%). Lula segue como candidato favorito entre católicos (56% a 37%) e nas periferias, embora o atual presidente tenha saltado de 38% para 43% nas preferências desses eleitores – o ex-presidente tem 50%.

O petista leva vantagem em índices que geralmente não chamam tanta a atenção nas leituras das pesquisas.

Por exemplo: entre os eleitores, 44% afirmam que com certeza votariam nele, contra 39% de Bolsonaro. Na outra ponta, 41% dizem não votar no petista de jeito nenhum, índice inferior ao obtido pelo atual presidente (47%).

Hoje apenas 7% dos eleitores admitem que podem mudar o voto até domingo (30).

Bolsonaro tem levado à TV a imagem de um candidato moderado para conseguir apoio para além de sua base mais fiel. O episódio envolvendo o aliado Roberto Jefferson (PTB) não só lançou estilhaços sobre o esforço como já exige uma dedicação de espaço e tempo consideráveis em sua propaganda para consertar os estragos – o mesmo tempo e espaço que sua campanha já precisou ceder aos adversários como direito de resposta aos ataques baixos.

Como numa partida de futebol, conforme o tempo passa, o time que precisa virar o jogo já não presta tanto atenção ao desenho tático ou mesmo às regras. Vai para o tudo ou nada, de preferência com dedo no olho e golpe abaixo da cintura.

Será (tem sido) uma longa semana até domingo.