Deboche de Bolsonaro com coronavirus gera panelaços. A paciência acabou?
O presidente Jair Bolsonaro. Foto: Andre Borges/NurPhoto via Getty Images
Panelaços podiam ser ouvidos ao fim do Jornal Nacional em diversos bairros da capital paulista na última terça-feira (17).
Nos locais onde até outro dia Jair Bolsonaro poderia transitar com certa tranquilidade, os moradores parecem ter perdido a paciência com o presidente que desafiou os fatos debochando dos riscos de uma crise aguda a explodir com o novo coronavírus — uma fantasia, segundo ele.
Bolsonaro já havia dado sinais de despreparo em crises anteriores, como as queimadas na Amazônia, mas elas pareciam longe demais da rotina diária do maior colégio eleitoral do país, onde se elegeu com folga.
Em outros casos, a forma errática de comprar brigas e levar a fóruns internacionais sua paranoia com espantalhos imaginários (o comunismo, o foro São Paulo e outras bobagens que não provocam espirro) não despertava a mesma ira, se não memes.
Alguns jogaram a toalha quando Bolsonaro levou um comediante para explicar o resultado desapontador do crescimento econômico em seu primeiro ano de governo na frente do Palácio do Planalto, seguido de uma tentativa de criar um inexistente “PIB privado”. Outros, após a banana em que ele mesmo escorregou ao anunciar que estava livre de contaminação — quanto muitos dos seus compatriotas já estavam contaminados.
Mas cair nos braços dos adoradores dias após voltar de viagem com boa parte da comitiva infectada (o último a testar positivo para o coronavírus foi o general Heleno, seu ministro do Gabinete de Segurança Institucional) transformou em cinzas aquela esperança de que o militar desobediente e deputado descerebrado pudesse se converter num presidente com o mínimo de postura e noção do que fazer com o país.
O cuidado com a vida, nessas horas, não tem coloração ideológica, mas Bolsonaro prefere atribuir aos inimigos uma tentativa de usar o vírus para enfraquecê-lo. A arrogância de quem não consegue pensar além do umbigo ficou tão evidente que até quem até outro dia pensava de forma pragmática, com esperança de ganhar dinheiro na esteira do desmonte anunciado, caiu na real: ninguém vai ficar mais rico num país em tensão institucional permanente.
Bolsonaro demorou semanas para ensaiar qualquer medida para conter as chances cada vez mais reais de seu país se transformar em uma grande UTI a céu aberto, com o sistema no limite para atender os pacientes que eventualmente forem contaminados por um vírus que já provou sua capacidade de se alastrar.
Enquanto o mundo tomava medidas duras, pensando antes nas vidas do que no bolso, o presidente do Brasil falava em histeria e priorizava sua “festinha” de aniversário.
Quem, com razão, está com medo não achou a menor graça.
E as panelas, como no auge do cansaço com o governo Dilma Rousseff e a demora em reconhecer a deterioração econômica que se avizinhava, saíram dos armários, com o grito, desta vez, de “Fora Bolsonaro”.
Ao que parece, o vírus da revolta se alastrou.